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Claus Leon Warschauer

Claus Leon Warschauer nasceu na Alemanha em 1929 de família judia. Em 1936 imigrou com seus pais para o Brasil, pois a família já pressentia a perseguição anti-semita de Hitler sobre os judeus. Viajou para o Brasil no navio Neptunia e aportou em Santos (SP). Morou em São Paulo. Estudou no Colégio São Luiz entre 1941-1942 e graduou-se em engenharia na Escola Politécnica (USP). Foi professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), na Faculdade de Economia e Administração da USP e na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Além de professor, foi engenheiro civil e perito. Foi casado com Aurora, mas divorciou-se. Tiveram 4 filhos. Naturalizou-se brasileiro. Imagem do Depoente
Nome:Claus Leon Warschauer
Nascimento:17/10/1929
Óbito:02/03/2012
Gênero:Masculino
Profissão:engenheiro
Nacionalidade:Alemanha
Naturalidade:Chemitz

Transcrição do depoimento de Claus Leon Warschauer

Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)

Núcleo de Pesquisa Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias

Depoimento de Clauss Warschauer, 81 anos.

São Paulo, 16/09/2011

Local: residência, Rua Pedroso Alvarenga, 505, ap. 152, São Paulo - SP

Pesquisadores: Priscila Perazo

Equipe técnica: Ricardo Gonçalves de Melo Souza

Transcritores: Paulo Nunes e Izomar Lemos

Participação de Marcos Warschauer (filho)



Musica ao fundo...

Pergunta:

Sua data de nascimento, o Senhor se lembra?

Resposta:

Dezessete de outubro de mil, novecentos e qualquer coisa.

Pergunta:

Será que não é 1929?

Resposta:

Pode ser 1929. É, é data do meu aniversário eu nasci lá, né?

Pergunta:

Lá onde?

Resposta:

Chemmitz!

Pergunta:

E onde é Chemmitz?

Resposta:

Chemmitz, Chemmitz, é uma cidade lá da Baviera. Chemmitz (C H E M M I T Z Chemmitz!

Pergunta:

E a Baviera fica aonde? Conta para nós.

Resposta:

A Baviera? A Baviera fica... (...) Não sei onde fica. Eu sei que eu nasci lá _________ (Actomistric). Era lá na Alemanha, lá eles não enterram os mortos sabe?

Pergunta:

Ah é?

Resposta:

Porque o mar, ele chuá, chuá, chuá, chuá, chuá, desenterra tudo. Então tem um prédio especial que é um cemitério, que lá é que são enterrados. São colocados dentro de muros né? Lá em Chemmitz.

Pergunta:

Então Chemmitz fica no litoral. Tinha praia?

Resposta:

Tinha praia tinha, é… tinha praia, exatamente porque na, na, na praia, lá, lá não enterrava os mortos. Porque o mar, ele chuá, chuá, chuá, chuá, chuá, desenterra tudo, né? [risos]

Pergunta:

Quando o senhor era pequeno, o senhor lembra se o senhor ia à praia lá na Alemanha? Brincar na praia, tinha isso igual à gente faz aqui no Brasil?

Resposta:

Ah! Eu não lembro não, esqueci tudo, mas devia, eu levava uma vida normal, de garoto, brincava de bola, essas coisa né?

Pergunta:

O seu pai e a sua mãe faziam o que? Trabalhavam no que?

Resposta:

Meu pais e minha mãe? (...) Meu pai era Herbert Warschauer (...) e a minha mãe era Leni Irma Berta Warschauer. E eu brincava lá, depois eu esqueci tudo. Lá não enterra os mortos, porque o mar ele chuá, chuá, chuá, chuá, chuá, desenterra tudo.

Pergunta:

[risos] Eu não vou me esquecer dessa do mar.

Resposta:

Han?

Pergunta:

Essa do mar. tchuam, tchuam, tchuan, foi a que eu mais gostei [risos].

Resposta:

[risos] Tchuam, tchuam, tchuan [risos]

Pergunta:

[risos] Cada vez que eu ver o mar vou me lembrar.

Resposta:

Sei.

Pergunta:

E, e, quando o senhor veio para o Brasil, o senhor lembra?

Resposta:

Eu acho que eu vim de Zepelim.

Pergunta:

Ah é?

Resposta:

É. O Zepelim era uma (...) grande nave. É... E que eu vim da Alemanha para cá de Zepelim. Zepelim era um grande balão, e nesse balão era tão grande que tinha piano a bordo. E... Enfim...

Pergunta:

Esse piano a bordo deve ter sido num navio não é?

Resposta:

Esse piano a bordo? (...)

Pergunta:

O senhor lembra de Santos?

Resposta:

Não, eu lembro que meu pai chamava Herbert Warschauer, a minha mãe Leni Irma Berta Warschauer

Pergunta:

E os seus irmãos?

Resposta:

Hã?

Pergunta:

E os irmãos?

Resposta:

Meus irmãos? (...)

Pergunta:

Peter e Mariene

Resposta:

O Pedro e a Mariana, é! Pedro e a mariana. Eles é (...) eles... o Pedro e a Mariana, minha mãe era Leni Irma Berta Warschauer.

Pergunta:

A sua família [5:00] ia à igreja?

Resposta:

A minha família?

Pergunta:

Algum tipo de igreja?

Resposta:

Acho que ia a igreja, sim, eram religiosos, também tinha uma coisa que, eram os... eram os que se consideravam mais ortodoxos. Eles é... obedeciam as leis religiosas, então eles não... é... não... é, deixavam de ir à missa e porque é... Eles eram assim mais religiosos...

Pergunta:

O senhor lembra se esses ortodoxos eram, na ale... , eram judeus ou cristãos?

Resposta:

Eram judeus. Eram judeus. Judeus. Os judeus eram... Os que mais se consideravam mais ortodoxos, freqüentavam a missa e tal. E... então, é... eles que freqüentavam a religião, eles também tinham os mais ortodoxos, que eles é iam à missa e tal, mas os corretores né? Corretores eles aproveitavam a ocasião para vender o seu peixe né? [risos] Os corretores lá, lá, assim, eram tudo judeus e...

Pergunta:

Como eles se vestiam?

Resposta:

Como?

Pergunta:

Como eles se vestiam? Eles usavam aquela barba dos ortodoxos?

Resposta:

É. Certamente usavam a barba né? A barba. Eles tinha até uma cerimônia religiosa chamada (Barlitizva). (Barlitizva) era uma, uma, uma cerimônia religiosa que...

Pergunta:

É o (Barlitizva) que quando o menino tem 15 anos quando o menino está nessa idade é (Barlitizva)?

Resposta:

Acho que sim, é.

Pergunta:

O senhor teve (Barlitizva)?

Resposta:

Devo ter tido, devo ter tido o (Barlitizva). Eu sei que, é...

Pergunta:

E primeira comunhão, porque depois a sua família quando chegou no Brasil, passou para a religião cristã, não passou?

Resposta:

É.

Pergunta:

O senhor teve primeira comunhão?

Resposta:

Tive primeira comunhão. Mas isso foi considerado como uma apostasia. Imagine um, um cristão ter primeira comunhão, isso...

Pergunta:

Um cristão ou judeu?

Resposta:

Um judeu!

Pergunta:

Ter primeira comunhão

Resposta

Judeu! Judeu ter primeira comunhão. Isso é... não se fazia né? Isso é uma apostasia.

Pergunta:

E ai, como é que foi?

Resposta:

Hã?

Pergunta:

Na hora de fazer isso ai. Seu pai e sua mãe concordaram com isso?

Resposta:

Meu pai e minha mãe concordaram com isso sim, porque (...) eles consideravam o, uma apostasia, virar cristão. Um judeu virar cristão etc. era uma coisa que eles não aceitavam não, emfim. Mas meu pai era Herbert Warschauer.

Pergunta:

Então, e seu pai resolveu sair da Alemanha e vir para o Brasil, ai, eu li aqui na sua história que foi em 1936,

Resposta:

Trinta e seis.

Pergunta:

Quando a policia bateu na porta da sua casa, foi por isso?

Resposta:

(...) Olha, houve lá muitas, é... Eventos [10:00] e acontecimentos etc. A policia bateu na minha casa. Queria saber quem morava lá e coisa desse tipo né? E, muitos acontecimentos aconteceram lá e... Então (...) os corretores de imóveis, naturalmente aproveitavam a ocasião para fazer as coisas lá e... eu me lembro que lá na Alemanha não enterravam os mortos, então eram, os corretores de imóveis dizer que no prédios deles, não, a policia é... ia lá etc., acontecia uma porção de coisas, de eventos então é...

Pergunta:

E quando o senhor chegou aqui no Brasil, o senhor me contou que morou na Rua Pamplona.

Resposta:

Rua Pamplona, 528

Pergunta:

O senhor lembra como era essa casa? Era grande?

Resposta:

(...) Não lembro. Acho que era um apartamento. Acho que era um apartamento, número 528, na (action street). Era...

Pergunta: Na (action street) na Alemanha ou na Rua Pamplona?

Resposta:

Na Rua Pamplona,

Pergunta:

Hã!

Resposta:

Rua Pamplona que...

Pergunta:

Então em São Paulo?

Resposta:

Já é São Paulo, é! E, enfim eu também, é, havia muitas coisas assim, eventos, acontecimentos, a policia bateu lá em casa, queria saber quem morava lá, e coisa desse tipo né? (action street)...

Pergunta:

E o... Senhor Herbert Warschauer...

Resposta:

Ele era meu pai.

Pergunta:

Então. Ele trabalhou em que aqui no Brasil? Ele foi engenheiro também?

Resposta:

Meu pai Herbert era engenheiro. Era engenheiro...

Pergunta:

E o senhor seguiu a profissão dele?

Resposta:

Segui a profissão dele, é. Era engenheiro também, Herbert Warschauer minha mãe era Leni Irma Berta _______Warschauer.

Pergunta:

Ela trabalhava sua mãe? As mulheres nessa época, ela trabalhava? Ou só ficava dentro, ou só trabalhava em casa, só ficava em casa? (...) O senhor lembra dela saindo para trabalhar ou ficando em casa com o senhor?

Resposta:

Não, acho que ela ficava em casa, sabe? Ela ficava em casa, ela Leni Irma Berta Warschauer

Pergunta:

Nome comprido né?

Resposta:

É!

Pergunta:

(Respa)!

Resposta:

(Respa)!

Pergunta:

E o senhor estudou, eu vi que o senhor estudou no colégio São Luiz.

Resposta:

Estudei no colégio São Luiz.

Pergunta:

Teve outra escola? O senhor estudou na escola alemã aqui em São Paulo ou não?

Resposta:

(...)

Pergunta:

Tem alguma escola o senhor falava alemão na escola?

Resposta:

Eu acho que devia falar alemão na escola sim. Devia falar alemão lá na escola. Era uma escola dos judeus né? A... a conversão ao catolicismo era... Uma coisa que não se admitia. Os corretores de imóveis aproveitavam a ocasião para dizer que lá é... O Colégio São Luiz. O Colégio São Luiz, assim, era um colégio muito tradicional. Ai tem umas fotografias de quando eu era garoto né? Essa é (Atega), (Atega) [15:00] (Atega), acho que tomava conta de mim, não sei. É... E... (Atega)...

Pergunta:

(Atega), era a moça que tomava conta do senhor sim.

Resposta:

Como?

Pergunta:

Ela era mesmo.

Resposta:

Ela era mesmo. é

Pergunta:

Essa aqui, quem é? Também é a mesma?

Resposta:

Essa ai! (...) Essa ai não sei que ela era. Uma pessoa que segurava o nenê, não é?

Pergunta:

Deixa eu ver. Capaz de ser ela também.

Resposta:

Pode ser, é.

Pergunta:

Deixa eu ver outra aqui espera ai. Oh o senhor aqui oh!

Resposta:

Oh! Ah! Sou eu! [risos] Oh o Clauss!

Pergunta:

[Risos] Deixa eu mostrar... Está bom assim?

Técnico:

Depois eu pego.

Resposta:

É o Clauss. E o meu nome era com “K”. Depois, fizeram uma reforma ortográfica, aboliram o “K”. Tiraram o “K”. Tiraram o “k” do alfabeto. Então eu fiquei Clauss com “C”. Celaus [ele disse] Laus é piolho! [risos]

Pergunta:

Em alemão Laus é piolho?

Resposta:

Laus é piolho. É piolho é. Piolho é. E... então (...)

Pergunta:

Vamos ver as fotos aqui. Espera ai... Oh! O senhor bebe.

Resposta:

É... (...)

Pergunta:

Olha aqui a sua cidade aqui. O que o senhor lembra daqui? Oh!

Resposta:

(...)

Pergunta:

Prédios bonitos heim? Deve ser na Alemanha.

Resposta:

Deve ser na Alemanha, mas eu não lembro nada de lá não.

Pergunta:

Deixa eu ver aqui.

Resposta:

Eu lembro que fizeram uma reforma ortográfica. Aboliram o “K”. Ficou ‘Celaus’ laus é piolho. [risos]

Pergunta:

Deixa eu ver se tem mais alguma... Ah! Olha aqui óh! E essas pessoas aqui acho... Essa deve ser (Atega).

Resposta:

E (Atega), é (Atega),

Pergunta:

E essa?

Resposta:

Essa ai... (...) Não sei quem é (...)

Pergunta:

E essas 3 crianças, será que não é Pedro, mariana e o senhor?

Resposta:

É, provavelmente é o Pedro, a Mariana e eu né? Eu quando era garo, criança.

Pergunta:

O senhor era o mais novo.

Resposta;

É o mais novo

Pergunta:

Quer ver? Ah! Esse Pedro aqui, ta {está} muito parecido com o Pedro Warschauer que eu conheço, que é o seu neto. Não é? Oh!

Resposta:

É

Pergunta:

Parecido mesmo! [risos]

Resposta:

Parecido é. (...)

Pergunta:

Mesmo sorrisinho da boca.

Resposta:

É.

Pergunta

E aqui, quem será essa menina? Aqui acho que é a sua irmã, Mariana.

Resposta:

A mariana, é.

Pergunta:

E essa?

Resposta:

Essa ai, eu não sei quem é. É um...

Pergunta:

Parece bem morena.

Resposta

(...) É parece bem morena.

Pergunta:

Eu não sei se é a foto ou ela que parece bem morena.

Resposta:

É... Está olhando muito espantado ai para... né?

Pergunta:

Vamos ver mais algumas aqui. (...) Ó aqui os seus irmão, estão todos aqui ó. Mas lembra mesmo o Pedro heim?

Resposta:

É... é... é Pedro e Mariana.

Pergunta:

Será que essa foto vocês já tiraram...

Resposta:

Como?

Pergunta:

Será que essa foto o senhor já tirou no Brasil? Acho que sim, ó, lá no sul.

Resposta:

Ah! Já tirei no Brasil sim, Eum vim de Zepelim. Zepelim era um grande balão, tinha até piano a bordo.

Pergunta:

E a... Netúnia?

Resposta:

Netúnia?

Pergunta:

O senhor lembra de alguma coisa com esse nome?

Resposta:

Netúnia...

Pergunta:

Será que o piano não era no Netúnia? Ai, ai, ai, isso aqui deve ser na Alemanha. ______ O senhor lembra de passear de...

Resposta:

Essa é uma (Dosquer).

Pergunta:

O que a carroça? A carroça, a charrete?

Resposta:

Uma carroça, uma carroça. Ela é (Dosquer).

Pergunta:

Uma charrete né? Mais, mais, mais que uma carroça. Olha ai que chique!

Resposta:

É... chique é...

Pergunta:

[risos]

Resposta:

É...

Pergunta:

Como é que chamava nessa época. (...) É ta {está} mais para uma carruagem...

Resposta:

Como é?

Pergunta:

Esta mais para carruagem do que para charrete. [20:00]

Resposta:

Pois é! Uma carrua... Mas é uma charrete lá. Acho que era uma charrete. Essa pessoa é... também ele ajudava a segurar os cavalos coisa assim desse tipo (...)

Pergunta:

Mais uma aqui... Ah! Aqui é o senhor, pera {espera} um pouco. Aqui ta {está} escrito que é o senhor lá na Alemanha. Um desses dois bebes, talvez esse, é o senhor lá na Alemanha.

Resposta:

Lá na Alemanha.


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul